Encontrei-me com ela.
Meu caro amigo Watson sempre me ouviu referir-me sobre
ela como “A” Mulher, mas cá entre
nós, Irene sempre fora muito mais.
Eu, o mais altivo e astuto homem que já caminhou sobre estas terras, cuja
destreza do raciocínio sempre fora impecavelmente perfeita, encontrei em Irene Adler meu calcanhar de Aquiles.
Watson poupara os seus leitores
dos fatos mais importantes sobre ela a meu pedido. Não incluíra em seus contos-registros,
as muitas vezes pelas quais a senhorita Adler cruzou meu caminho e venceu-me.
Talvez porque John sempre quisera
ver-me como um homem sagaz, um herói, coisa que eu mesmo o adverti sobre nunca
ser e menos ainda almejar ser. Lestrade
que o diga. Não fosse pelas inúmeras vezes as quais cedi os créditos de minhas
vitórias a ele, apesar de ser um brilhante inspetor da Scotland Yard, não teria
a boa fama que ostenta hoje.
Mas
este breve relato não se trata de outra coisa, senão dela. A Mulher. Irene Adler. Poucas vezes na vida eu vi alguém conseguir
unir inteligência e sabedoria como ela. Nem tampouco vi caminhar sobre a terra,
pessoa mais esperta, arisca e arredia. Ela era, em todos os sentidos possíveis,
impossível de ser domada. Não sou capaz de fazer uma descrição fisionômica de
sua pessoa, porque, esta habilidade pertence ao meu biógrafo Watson que sabe
conduzir uma narrativa melhor do que ninguém, e embora eu ainda possua o retrato
dela, guardado no meio daquela minha surrada agenda velha no fundo do baú onde guardo
as anotações dos casos de Moriarty, eu não toco em sua fotografia muito menos
ouso olhá-la. Permanece lá, inquieta e solene. Para lembrar-me da primeira vez
que a vi, naquele escândalo evitado envolvendo o herdeiro do trono da Boêmia
tão bem descrito nos contos de meu velho amigo.
Mas a
grande verdade, que acho eu nem mesmo Watson sabe é que eu guardei o seu retrato
e o mantenho comigo até hoje. Porque é da minha persona exaltar-me com minhas
vitórias pessoais, mas também faz parte de mim, Sherlock Holmes, lembrar sempre
de que nunca serei nada comparado a
Irene. E aceito este fardo de bom grado. Watson disse certa vez, se me
lembro com exatidão de suas palavras (Peço a gentileza de que me concedam o direito
à dúvida, pois Watson sempre fora muito preciso em seus julgamentos sobre minha
personalidade, mas em dadas ocasiões, escondi dele o que sentia com exatidão
para poupá-lo de preocupações desnecessárias)que eu, Sherlock, sempre tivera
uma inteligência fria, porém admiravelmente equilibrada o que me tornava imune
a emoções, incluindo o amor.
Mas
ela. A Mulher. Irene Adler. Teve de mim o mais próximo desse sentimento
que eu pudesse ser capaz de sentir.
É
certo quando dizem por aí que nenhum homem jamais venceu o grande Sherlock
Holmes. Porque as únicas vezes que fui vencido, não fora um homem. E sim uma
Mulher.
A
Mulher.
Irene Adler.
Irene Adler.
Sherlock Holmes, 221B Baker Street, Londres 18 de maio de 2018.
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