segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Mais um ano vai chegando ao fim. Mais 365 dias de muita luta, e algumas glórias e muitos fracassos.  2019 vai entrando para o hall de um dos piores anos dos meus ( na reta final dos) vinte oito anos. Falar de todas as coisas que aconteceram esse ano, seria reviver velhos fantasmas e algumas novas decepções. Mas, para dar um breve resumo, basta eu dizer que não fiz praticamente nada do que eu listei em primeiro de janeiro, dizendo que faria. 
Perdi pessoas, perdi amigos, familiares, quase fali financeiramente, enfrentei uma severa depressão que me tirou a vontade de viver e ser feliz, e por fim e a parte que mais interessa a esse blog: Parei de escrever.
Com um livro engavetado desde 2018, 2019 me rendeu pouquíssimos escritos. Cadernos empoeiraram, bloco de notas foram jogados no lixo e aquele sentimento de que "eu só existia quando escrevia" foi aos poucos ficando em segundo plano, terceiro, quarto, último.
Passei a acreditar que o meu fracasso em todas as outras áreas da vida, também se estendia ao que escrevia. E quando perdi a confiança no que saía da caneta, me vi num bloqueio que eu mesmo criei. 
Foi então que eu me lembrei de um escrito de Paulo Leminski que li muitos anos atrás (Deixarei o texto ao final e também neste link aqui ) que dizia muito claramente o que é ser poeta nesta altura da vida.
Pra se acreditar em poesia em pleno dezembro de 2019, é preciso muita coragem, porque como diz Leminski é preciso muito heroísmo para continuar acreditando em poesia quando todas as outras coisas da vida adulta te esmaga sem dó, nem piedade e muito menos compaixão.
E é por isso, por acreditar na poesia, que o Escritos Desvairados continua de pé, desde 2011. Porque mesmo nas horas mais escuras, eu nunca deixei de acreditar na poesia. mesmo nos piores momentos, esse meu cantinho aqui é meu. Meu refúgio, minha fortaleza que me acolhe e me desvaira um pouco desse mundo caótico que é lá fora.
Então, ao 2019, eu não tenho mais nada a dizer a não ser um sonoro e confortante: JÁ VAI TARDE!
E ao 2020, que chegue trazendo o novo, que seja o início de uma nova década próspera e que eu nunca, jamais me esqueça, que poesia é o que me salva, o que me alivia, o que me traduz. E que o Escritos Desvairados continue como sempre, fazendo parte da minha vida e guardando tudo aquilo que de tanto não caber em mim, coloco em palavras.

Feliz 2020.




Texto de Paulo Leminski


"Aos 17 anos todo mundo é poeta, junto com as espinhas da cara, todo mundo faz poesia. Homem, mulher, todo mundo têm seu caderninho lá dentro da gaveta, e têm os seus versinhos que depois ele joga fora ou guarda como mera curiosidade. Ser poeta aos 17 anos é fácil, eu quero ver alguém continuar acreditando em poesia aos 22 anos, aos 25 anos, aos 28 anos, aos 32 anos, aos 35 anos, aos 40 anos, eu estou com 41, aos 45 anos, aos 50, aos 60 anos, até você encontrar um poeta, por exemplo, como Drummond ou como o admirável Mário Quintana que são poetas que estão fazendo poesia há mais de 60 anos e há mais de 60 anos que a poesia é o assunto deles. Então eu acho que 90%, mais! 99% dos poetas que estão fazendo poesia hoje, daqui a dez anos eles vão estar fazendo outra coisa, porque vem a vida, vem os filhos, vem preocupações com dinheiro, vem as ambições do consumo, vem a necessidade de comprar isso, comprar aquilo, de adquirir uma casa na praia e tal, e tudo começa a se tornar mais importante do que a poesia. A poesia é uma espécie de heroísmo, você continuar ao longo dos anos acreditando nessa coisa inútil que é a pura beleza da linguagem, que é a poesia, é um heroísmo, é uma modalidade quase, às vezes eu gostaria de acreditar, de santidade. É uma espécie de santidade da linguagem. Porque a poesia não vai te fazer rico de jeito nenhum, é muito mais fácil você abrir uma banquinha e vender banana do que fazer poesia. Quer dizer, para você continuar acreditando em poesia é preciso muita santidade."
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Paulo Leminski em  Ervilha da Fantasia.