quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

 







Mais um ano se passou.
Um ano inteiro deixando essa barba branca ridícula crescer, para interpretar de novo o Papai Noel da vila. Usar roupas desconfortáveis e suar feito um porquinho na brasa.
Mas é o que eu gosto de fazer. O que me motiva. O que me alegra. Amo essa época, amo esse ar “natalino”.
Roupa vestida, desço as escadas e finalizo meus preparativos: Biscoitos natalinos. Preparados na véspera, prontos para serem assados e distribuídos. Modéstias a parte, meus biscoitos são a melhor coisa do Natal na vila, todos amam.
Ah, o Natal. O Natal é mágico. Como me encanta essa época. Crianças e pisca-piscas espalhados por todos os cantos.
Na saída de casa, já vestido e com os biscoitos, me preparo para passar o dia na praça distribuindo sorrisos. Encontro meu vizinho Jorge no caminho.
“Olá, senhor Noel!” – Diz ele todo sorridente.
“Olá Jorge, como vai a vida?” –Pergunto por pura educação.
“O mesmo de sempre, e o senhor? Muito trabalho?” – Ele me responde.
“O mesmo de sempre. Quer um biscoito?” – Ofereço por educação.
“Ho-ho meu bom velhinho, sabe que não resisto a esses biscoitos. São os melhores de toda a vila”
“É a receita especial do Noel. O movimento está fraco hoje” – Questiono.
Ele então, com os olhos arregalados, me diz: “Não soube ainda? Aconteceu de novo. Mais um ano que duas crianças da vila desaparecem, sem deixar vestígios”
“Oh, não” ­– Me limito a responder.
Algumas outras palavras são trocadas, e logo Jorge se despede e segue seu rumo. Bom, ele tenta, mas volta segundos depois: “Senhor Noel, teria mais uns biscoitos, por gentileza? Essa sua receita especial é simplesmente deliciosa”
Claro meu bom Jorge. Coma a vontade.
Penso comigo: biscoitos natalinos são mesmo deliciosos, crocantes e com pedacinhos de crianças suculentas então, ficam melhor ainda.
Sorrio.
“Feliz natal, Jorge” 
“Feliz natal, Papai Noel”.