quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Fechado pra Balanço

É hora de fechar as contas de 2013. Não, este não foi um bom ano. Perdi pessoas, algumas perdi para sempre na incompreensão da morte, outras apenas decidiram que não era mais importante me ter em suas vidas. Ah, sim meu caro, 2013 foi um daqueles anos que tinha tudo pra dar errado. E deu. Mas no fechamento das contas no final de ano, é claro que, se somadas, as alegrias ainda foram em maior número que as tristezas, porque não importa o quão difícil seja suas decisões, não importa o quanto o mundo esteja corrompido com o ódio, no final o amor sempre vence.
Tivemos tempestades. Muitas. Mas também há que se lembrar de todos os dias de sol.
Perdemos alguns amores, perdemos algumas noites de sono. Perdemos o prazo de algumas prestações. Mas superamos, com muito trabalho e amor próprio.
Escrevi menos poesias. Vivi menos do que devia. Sorri menos.
Vivi dias que você não gostaria de saber, e talvez por saber disso, toda vez que me perguntaram se eu estava bem, a resposta falsa era Sim.
Mas eu cresci em 2013. Mais do que já havia crescido nos seus anos seguintes. Fui afastando sonhos impossíveis. Firmando o pé no chão e sendo de fato, homem.
Em 2013 eu bebi mais do que devia.
Na verdade, não me lembro de nenhum dia que não tenha bebido.
Não foi a forma mais corajosa que escolhi para esquecer as decepções, admito.
Mas não se pode acreditar em um escritor que vive sóbrio.
No fim das contas, foi mais um ano de aprendizagem. Mais um ano de coisas novas. Mais um ano de vida. E chegar ao final dele, é mais uma prova de superação interior.
E por falar em interior, foi mais um ano de solidão.
Mais um ano.


E este poeta, queria desejar de coração um Feliz Natal e Feliz Ano Novo a todos que por aqui passaram., vocês foram muito importantes para que não desistisse do blog. Agradeço a quem esteve ao meu lado, a quem esteve junto em diversos projetos e garanto à vocês que em 2014 darei mais atenção ao blog, com postagens mais atualizadas e visitas constantes nos blogs amigos.

Enfim, tudo de bom pra vocês leitores, que são e serão sempre a melhor parte dos meus anos.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Poética Problemática das Próprias Estruturas



















Toda vida, todavia,
é Poesia.
Algumas de tristeza, outras de beleza
E umas tantas de incerteza.

Há tempos deixei de rimar sentimentos concretos.
E talvez por isso, passei a escrever versos incertos.

Mas haverá sempre outros.
Versos, vinhos, noites e rostos.
Que eu não procurei na multidão.
[Meu verso mais sincero, sempre fala de solidão]
Em poemas descompassados, sem questão de metrificação.

Porque a vida é uma bagunça nova todo dia
E por que não seria?
Se é assim também a poesia?

Cópias mal colocadas em porta-retratos
São molduras apenas.
O que não vale a pena é ter alma pequena
Que não caiba moldura de quadro
nem coração de papel picado.

O que não vale a pena meu caro, é poema mal começado.
Porque no fim, toda vida, todavia,
É poesia. 

terça-feira, 5 de novembro de 2013

La misma rutina























¿Dónde viene esta intervención
Palabras de otros
Haciendo caso omiso
De un poeta que no es
Perdido en sus pasos
Pero en sí mismo roto
Con otros tonos, pinta su rostro
Y Guasón no es una broma
Poesía aburrida
Como canta el tango
Violín sin cuerda
Sordo, mudo y sin rumbo
Así que se hace intervenir
En los días de reinventarse
Su pequeña rutina
Suave brisa es que va y viene
Pero no contiene
Con medias palabras, gestos medios
Pero el alma es manso
Con una taza de café en las manos
Y toda la vida de los poemas no tan bueno
Aún no se ha escrito
La vida sigue reinventándose
A sí misma en la misma rutina

Dia






















Estive morto por um longo tempo
Tempo de primaveras perdidas
De pessoas desaparecidas
Sentadas na mesa do café
Faltava mais do que fé
Faltava acreditar que estar vivo
Não é estar na fila do banco
E passear com o cachorro aos domingos
Estar vivo é um milagre que nos concedemos
Todos os dias e nem percebemos.
E talvez alguns dias
Não tragam poesias.
Mas serão sempre mais um.

Dia. 

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Nunca é tarde pra pedir perdão



Hoje eu só quero agradecer. Há alguns anos, quando perdi alguns amigos queridos num acidente de carro, havia perdido também minha fé. Foi aos poucos, primeiro deixando de ir à igreja aos domingos, depois parando de fazer minhas orações antes de dormir e quando dei por mim, tinha fechado as portas do meu coração para Deus. E foram muitos os momentos em que fechei meus olhos ao meu senhor. Até que bem pouco tempo atrás, ouvi esta música do vídeo, tocando numa rádio no carro no caminho de volta pra casa depois de um dia estressante de trabalho. Encostei o carro no acostamento, e quando dei por mim, estava chorando como criança, porque de alguma forma, aquela música tinha entrado dentro de mim, entrado em um lugar em meu coração que há muito estava fechado, e esta canção rompeu este silêncio. E ali mesmo, na beira da estrada, eu rezei e pedi perdão. Não um perdão falado apenas. Um perdão na alma. Um perdão pedido de filho pra pai, numa oração que durou minutos, mas que para mim, foram os minutos mais valiosos da minha vida. Algumas pessoas, reencontram Deus num momento de dificuldade. Num momento onde a esperança já é falha. Mas eu tive a graça de reencontrá-lo num fim de tarde, de ficarmos alí, observando o pôr-do-sol. E se você, assim como eu, foi deixando que as coisas do mundo fossem capazes de lhe afastar das coisas de Deus, lembre-se que nunca é tarde para se arrepender. E ele sempre estará ali, esperando por ti, na beira de uma estrada, numa noite mal dormida, numa manhã de chuva. Não importa como ou quando, se você chamá-lo com seu coração, ele te receberá de braços abertos.
Por isso hoje, eu só tenho à agradecer.
Pai, meu pai do céu, eu quase me esqueci, que teu amor vela por mim.
Que seja feito Assim.


E não nos deixeis cair em tentação.
mas livra-nos de todo mal, amém.

sábado, 26 de outubro de 2013

Praça Coronel Flamínio Ferreira de Camargo (Praça do Museu)

Ala Leste da Praça, Fachada do antigo prédio da Biblioteca Municipal.




















Poucos Lugares me encantam mais nessa cidade que a praça do museu. Um lugar que já foi palco para muitos escritos meus, palco de grandes lembranças e grandes momentos. Lugar aonde sempre ia e sempre vou quando quero um pouco de paz, quando preciso me encontrar em meio a tantos sentimentos adversos.
Limeira, que era a menina dos meus olhos, hoje é uma estranha desconhecida. Nunca escondi meu descontentamento com os atuais rumos políticos desta cidade. Sou crítico convicto dos descasos da administração pública e testemunha do abandono desta praça, que nos tempos áureos abrigava a minha tão querida biblioteca municipal e que hoje está praticamente abandonada. Mas mesmo assim não deixo de vir até aqui sempre que posso. É aqui que encontro a paz num fim de tarde qualquer, onde fico a escrever por horas no meu caderninho, sentado, fico quase invisível em meu canto, observando as pessoas seguirem apressadas suas vidas sem se dar conta que no coração desta cidade, pulsa uma alma querendo se encontrar.
Algumas coisas são simplesmente impossíveis de serem explicadas por palavras, mesmo a quem tem intimidade com elas. E este amor incondicional por este pequeno canto no mundo é uma dessas coisas que para mim não se explica, apenas se sente.

E este texto, não trará nenhuma poesia, nenhuma crônica ou texto cheio de palavras bonitas. Na verdade, este texto é apenas um agradecimento, deste pequeno aprendiz, para este canto no mundo, que de tão particularmente especial, se tornou uma parte indispensável de mim, um dos poucos lugares que restaram nesta cidade, que me faz bem. 

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Uma madrugada, um cigarro e uma tempestade.

á é madrugada, na janela do meu quarto, e com o peito encostado na janela, olhando a tempestade chegando na cidade, lá estou eu, com o cigarro entre os dedos, pensando em tudo aquilo que de tão distante, parece ser parte de outra vida. No rádio, Jhonny Cash canta I Hurt myself today, to see if still feel, como se pudesse ler parte do que eu sinto agora, ou que preferia não sentir, mas no fim tanto faz. de alguma forma aprendi a me encontrar no meio dessa solidão toda. 
É incrível o poder que você exerce sobre mim. Sete anos. Fazem exatos sete anos que eu não falo seu nome, nem ouço aquela nossa velha música que tocava nas rádios. Pelo simples fato de que ao menor sinal da sua presença, minha vida vira uma bagunça. Faz sete anos que você me deixou e quando reencontro sua foto, guardada no fundo da gaveta do guarda-roupa, eu sinto o seu olhar como se ainda fosse ontem. Quando eu disse que eu te amaria até o fim da minha vida, confesso que pensei que fosse exagero. Mas mesmo assim, sete anos depois, aqui estou eu. Evitando tudo sobre você, na vã esperança de que um dia me acostume com a companhia da solidão, porque mesmo quando eu não quero pensar em você, eu penso. E enquanto isso acontecer, vai ser sempre você. Sempre amor à causas perdidas.
Aprendi a me encostar nos ombros da solidão e ficar ali. Sem me incomodar ou incomodar alguém. Por mais que possa parecer triste, eu aprendi a ser sozinho depois que você se foi e hoje isso não me incomoda tanto. Ok, pode incomodar um pouco às vezes, mas é melhor que mentir a mim mesmo que te esqueci e abrir as portas para um novo amor, que vai acabar ao menor sinal da sua presença. 
Talvez daqui uns anos, eu também aprenda a não chorar.
E de vez em quando, eu vou voltar a falar de você. Porque só assim vou escrever outras novas poesias. 
Bom, a tempestade chegou.
E agora eu só quero ouvi-la bater na minha janela.
Enquanto eu vou ficar aqui pensando em você outra noite.
Porque tudo sobre mim, é como aquela velha canção do U2:

"And I wait without you.
                     With or without you"

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

De volta aos Blocos de Papel II


A gente conta os dias
Conta os meses, o ano.
Conta a verdade,
Conta a mentira.
A gente conta com os amigos,
Conta piadas sem graça,
Conta as saudades e as lágrimas.
Porque a vida é uma matemática.
Cheia de contos de fatos.

domingo, 29 de setembro de 2013

Como salvar uma vida?


















Não há na vida, qualquer aviso dos tropeços futuros
Nem sinais presentes no decorrer de um longo dia
Que venha nos avisar que em alguma dessas esquinas
Esteja o nosso amor acalantado em novas poesias.
Não há sobreaviso dos nossos erros ainda não cometidos
Nem paixões sobrescritas em receitas médicas quem venham a nos curar
de todos os males, de todos os tropeços, de todos os devaneios
mas há sim, um acaso escondido que nos dita todo o ritmo
E que vira rima em canções antes não ouvidas sobre como é lindo amar.
E que nos enche de vida todo o momento que ainda está por vir.
E que nos fazem olharmos uns aos outros com um algo a mais que nos faça rir.
Rir da vida é um remédio e tanto nos momentos de pranto
Quando todas as portas parecem fechadas
Quando todos os gestos parecem fachada
para ocultar o que se sente.
A vida é uma coisa surpreendente.
E se reinventa a cada momento
Ser feliz é algo que vem de dentro da gente.
Não tem data marcada, não avisa com antecedência e nem pede licença.
Quando ela chega, é porque aquele é o momento pra vida toda que dura pouco.
Mas que esse pouco é muito pra quem tem fé.
E que a nossa fé seja a força que nos mova
Que as histórias de amor real nos comova
Como as histórias dos filmes e livros
E que venha junto com a felicidade, nos ensinar
Que há uma vida de surpresas lá fora pra quem ainda puder amar.
E todos nós ainda podemos, se para isso, ainda manter forte a capacidade de acreditar
Acreditar em dias melhores, em acasos, em nós mesmos, no mundo
Acreditar que bem lá no fundo
Há algo escrito nessa vida, que nos pertence.
Quem acredita, no final sempre vence.
Se a vitória ainda não foi acrescida em mim,
então é porque ainda não chegou ao fim.


O texto acima é um singelo presente do aprendiz à suas queridas amigas: Denise e Amanda, que talvez até sem perceber, me ensinaram muito sobre a vida e me deram uma lição de como salvar uma vida. Meu muito obrigado :)

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Desabafos típicos de uma segunda sem intenções.

Este não tem sido um ano muito legal. As perdas, se comparadas com os ganhos foram um número infinitamente  maior. Mas estamos aqui, não é mesmo. Não é isso que os poetas fazem melhor? Escondem suas inquietações no meio de palavras escritas em verso, ritmadas ou não. Perdi pessoas, perdi pessoas para sempre, mas o que mais me tirou o sono até agora, foi ter perdido à mim mesmo em algum lugar do caminho. Cheguei numa daquelas crises curiosas da vida, em que você percebe que vai ser mais um despercebido na multidão, e pior que isso, você se olha no espelho e não reconhece ali o cara que você era uns anos atrás. Eu nunca superei a perda do meu amor. Nunca consegui seguir em frente. E desde então, tudo que tenho feito é um monte de idiotices pra ver se consigo me odiar um pouco mais a cada manhã, e então entender porque ela me deixou. Os meus fantasmas interiores, fizeram virar silêncios todas as poesias de alguns anos atrás. Eu sou, momentaneamente ou não, um grande fracasso. Um grande fracasso assistido de perto por um monte de gente que torceu pra isso. Eu queria tanta coisa simples. parar de fumar, um amor sincero, aprender tocar violão. Não consegui nada disso. às vezes eu quero ir embora daqui sabe, voltar por Uruguai sem nunca mais ter que voltar pra essa cidade e pra tudo isso. Mas o fato é que o problema não são os lugares. São as pessoas. As minhas inquietudes vão ser as mesmas aqui, em Londres, em Madri, no Sertãozinho de Minas Gerais, em Manus não importa. Vai ser sempre eu, e meus problemas na bagagem. 
Certeza mesmo, só tinha Cássia Eller quando disse que somos poetas, mas não aprendemos a amar.
Meu quarto tá uma bagunça, meu coração tá uma bagunça, e eu não descarto a possibilidade de que este seja o último post desse blog. Eu só quero um tempo longe de pressões, de cobranças desnecessárias, de remédios tarja preta e de falta de inspiração. Eu só quero me encontrar pra poder continuar. Eu só quero ser forte pra sobreviver a mais esta fase ruim. E o tempo ruim vai passar, mais cedo ou mais tarde. Tudo passa. 

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Demoradamente












Tudo passa
Às vezes as pressas.
Às vezes as travessas
Ou atravessando círculos.
D  E  M  O  R  A  D  A  M  E  N  T  E 
Mas passa.
Com graça
Sem caminho definido
Em linha reta, em curva ou em círculo.
Em reticências.
Ou infinitamente sem sentido.
Só o que não passa
é a memória,
a história
e a lembrança.
Mas o tempo se encarrega de substituí-las,
D  E  M  O  R  A  D  A 
M  E  N  T  E

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Janelas da Alma





















Veja da janela da alma,

o quanto de si existe dentro do espelho.
Num devaneio que não passa,
Cresce a farsa
Sobre seus amores invisíveis.
E na solidão que se sente
Consente o pensamento do acaso,
Daquilo que não se entende
Nem se imagina.
Mas que acontece.
Num dia qualquer
Daqueles em que você senta na calçada,
pra observar as janelas da alma.




segunda-feira, 15 de julho de 2013

Poesia interior















Perco sonhos, oportunidades vagas
Por medos bobos e inconsistências na alma
É tudo tão complicado de ser explicado
Que perco o sono enquanto perco a calma

E na mente cheia, existem vagos espaços
Onde a ideia é um caminho distante.
Divergindo os sonhos de todas as épocas
Sou nada, além de um ser pensante.

Sem melancolia, nem alegria
Sem peso nem contratempo
Tudo é vago
das arestas ao pensamento.

E das figuras presas pelo travesseiro
Resta a mim, ser poeta por inteiro
em poesia inacabada

Onde cada linha, traço e estrofe
É silêncio de poeta que já não sofre
pela sua poesia entrelaçada.


segunda-feira, 1 de julho de 2013

Naqueles meses antes de Setembro















O que o tempo detém
Na aresta do ponteiro
O tempo que vai e quem vem
É tempo, sem tempo por inteiro

O que o tempo leva
Não guarda rancor
Mas deixa solene
O pensamento por onde for

Do tempo, que não somos
Somos tão pouco que não me lembro
Perdemos todo sentido
Naqueles meses antes de Setembro.

E assim foi levando o tempo
De tempos frios à corações vazios
E copos meio cheios

Sonhando ser de volta amor
E poeta que não escreva dor
Entre seus meses de devaneios


quarta-feira, 29 de maio de 2013

Monólogos do Amor que ainda não inventaram
















Ando precisando de um amor

que tome conta de mim
Simples assim.
Sem demasias, nem diferenças
Sem preconceitos, credos e crenças
Sem desavenças com o contratempo
Apenas amor, sempre mais, nunca menos.
Amor que venha e que fique
Que seja a companhia nos dias tristes
E que haja sorrisos espalhados
E corações enfeitados
Numa cesta de café dada de presente
Que seja amor que a gente ama e sente.
Que seja eterno
Que esquente no inverno
E que deite com a cabeça em meu colo enquanto lê
Eu só quero um amor desses que a gente vê
nas novelas, nos livros, nas histórias encantadas.
Mas que seja amor real, não apenas conto de fadas.
Amor que seja sincero.
Amor que seja belo
Amor que seja diferente de todas as outras formas de amar
Um amor, que nem o mais romântico dos poetas, tenha tido a sorte de inventar...

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Madrugadeando


















Ando acordando fora de época
Madrugadeando pelo pensamento
Alheio-me. Nas vontades do tempo
Perdidos nos livros que ainda não li.
Mas que lerei
Se o sono não vir.
E que não me falte a fé
Nem o café pela manhã.
E que amanhã, tudo seja de novo.
Novo.
Igual.
Natural.
Diferente.
Que tenha amores
Que tenha sabores
E que a vida valha a pena
Sempre vale, se a alma não for pequena.
Ouvi uma vez dos livros.
Ou seria dos amigos, tanto faz.
Faz tempo que não sonho
E ando sonhando em não acordar de madrugada
Pra não lembrar apenas de nós dois e mais nada.


sábado, 25 de maio de 2013

Garota
















Garota.
De sorriso de menina
De olhar que fascina 
De coração tão sereno
E olhos pequenos
Garota.
Que gosta de flores
Que sofreu por amores
E prefere o rosa, de todas as cores.
Garota.
Mulher.
Que sabe o que quer
E sabe melhor ainda o que não quer
Que cuida de si, com o coração na mão
Que faz graça, faz pirraça quando ouve um não.
Garota, sempre linda sem perder o brilho
Sempre em festa com seu simples sorriso.
Garota de encantos meus,
Perdida em pensamentos seus
Estás a me procurar?
Ou prefere que eu vá
Em seu encontro
E fique.

Por todo tempo que houver nessa vida?

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Sofia

















Sofia, sorria ao caminhar numa rua sem ladrilho
E sem alarde num fim de tarde, sumia no mundo o andarilho
De trilha em migalhas e corações ardentes em brasa
Partiram gaivotas na praia, com seu suave bater de asas

Dia de melancolia, chuva sem pressa em domingo
E o poeta ora indo, ora vindo, era poesia desencontrada
Amando amores amantes a menos tempo que gostaria
Sua poesia cantava sobre uma vida apaixonada

E o mundo, sussurrava-lhe: “Pobre poeta sem caminho”
[Mas porque pensas que não sei por onde estou seguindo?]

E Sofia, ah, Sofia ainda ria,
Como se no fim, tudo fosse poesia.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Meu cantinho no mundo


















Não temos Shopping aberto vinte quatro horas por dia,
e nem padaria.
Mas Morar aqui nesse cantinho do mundo, quem diria,
que seria assim, 
poesia todo dia nascendo no meu jardim!



(Nascer do Sol: Sítio S.Joaquim, Limeira-SP)

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Amigo Canário



















No alto do morro, do páteo da casa velha
Canário de canto forte, amarelado da cor da terra
Da manha na fazenda, as lembranças
Do canto da vida que levo desde criança

Café coado em coador de pano
Longe da cidade e seus ruídos insanos
a vida no mato se renova a cada dia.
E o canário bem disposto, entoa a cantoria.

Fazendo companhia ao poeta aprendiz
Viver nesse cantinho de mundo me faz feliz
E felicidade é um canto que se canta com gosto
E o canário lá fora, acompanha a melodia com gosto.

E de canto em canto, vamos seguindo
às vezes abatido, mas sempre sorrindo
Porque não há alegria maior que viver apaixonado
Sempre na boa companhia, de meu amigo amarelado...



Esta poesia é um presente pra querida amiga Denise Oliveira do blog: Detalhes, pela ideia da poesia.!

Conto - Do que é feita a vida senão de sonhos?


“Do que é feita a vida, senão de sonhos?”
Veio me dizer naquela tarde o jovem sonhador da rua dos Alencares. E aliás, diga se de passagem, nunca vi nome tão extravagante para uma rua. O nome com certeza não era esse, mas era assim que todos nós a conhecíamos, pelo fato de lá ser a morada de quatro famílias com sobrenome iguais, mas que nunca se conheceram.
Mas esta não é uma historia sobre a rua, nem sobre a cidade, mas sim sobre as pessoas e seus sentimentos.
No momento mais amargo de minha vida, um velho, a beira da morte não poderia esperar muita coisa, senão relembrar seus velhos amores e as desilusões por eles causados. Tenho mais anos do que um garoto do primário possa contar e meu nome não passa de um borrão de tinta num pedaço de papel do cartório municipal.  Perdi meu grande amor quando tinha dezessete anos, e isso já faz tanto tempo, que é a única lembrança que tenho daquela época.
Eu a vi partir numa manhã de inverno, quando havia realmente inverno nessas terras, saiu pela porta como quem vai a padaria comprar o café da manhã e nunca mais voltou.
Recebi uma carta algumas semanas depois, dizendo que tinha seguido seu coração e embarcado junto à uma companhia de teatro norueguesa.  Nunca fiz objeções. Nunca falei dela antes, mas se a morte bate a porta de um velho, talvez seja a última vez que ele possa contar-lhe sua história.
Casei-me algumas vezes. Maria, Alice, Bernarda e Constância. A Todas dediquei amor, mas nunca um amor sincero. Nunca as traí. Nossos relacionamentos nunca duraram, porque mais dia ou menos dia, elas descobriam que eu era um velho amargo, cheio de lembranças de um amor passado que nunca morria.
E sim, viver de lembranças podem arruinar um homem.
Fiz dinheiro nos negócios, fui um bom pai e avô para com minha família, nunca deixei faltar absolutamente nada a nenhum deles. Mas faltava-me o amor. O amor perdido que foi que consumindo, consumindo, até que eu não conseguisse suportar.
E no final, quando o ciclo da vida se encerra, tudo o que tenho são as lembranças dela para meu consolo.
A morte chegou algumas horas depois da visita do jovem da rua dos alencares. Sentou elegante à mesa, e esperou que o café ficasse pronto. Sentamos e tomamos alguns goles, eu, sem açúcar e ela com uma pequena dose de conhaque que restara numa garrafa que eu nem lembrava mais que tinha.
No final, disse baixinho em meu ouvido: “ É chegada a hora, ela está te esperando do outro lado para viver tudo o que ainda não foi vivido.”
E então eu deitei-me no velho sofá da sala, pensando comigo enquanto partia:
“Do que é feita a vida, senão de sonhos?
...”

sábado, 13 de abril de 2013

Embriaguez
















O cigarro acabou, assim como o vinho barato
E o poeta sentado, na mesa do bar assiste a madrugada
O tempo passa, sem glamour nem tédio
E a manhã no topo do mundo anuncia sua chegada

Não tão frio que não sinta apego
Nem tão bêbado que não possa voltar pra casa
Caminhando de volta em mais uma noite mal dormida
Anseia  pela chegada, com o mesmo fulgor da partida

E dos avessos do seu entendimento
Corre contra o próprio tempo sem pensar
Era ele o poeta dos sonhos de outra vida
Procurando alternativas para amar
                                                                       
E no cinzeiro da manhã nublada
Via os caminhos que não levam a nada
Na estrada dos despropósitos da vida
Onde guardava as lembranças perdidas

E o encontro era silêncio, sem peso
O dia que começava, seguia a esmo
Sem questão de ser compreendido
Ele seguia, nem sempre sorrindo

Mas seguia em frente, mesmo tendo os rastros
Às voltas com o passado tão difícil de passar
Nas outras madrugadas seguintes, era ele
O mesmo poeta, nas esquinas, querendo apenas amar...

Matéria do Estado de S. Paulo: Lygia Fagundes Telles, testemunha literária


A leitura de hoje, é a reprodução da matéria de Ubiratan Brasil do Jornal: O Estado de S. Paulo com uma entrevista a escritora Lygia Fagundes Telles, publicada no caderno Sabático 











(Para ler a entrevista diretamente na Página do Jornal Estadão Acesse o Link: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,lygia-fagundes-telles-testemunha-literaria,1020463,0.htm)




Lygia Fagundes Telles, testemunha literária
A escritora relembra momentos marcantes de sua trajetória, como a amizade com Clarice Lispector e Hilda Hilst, a viagem à China em 1960, o encontro com Montero Lobato e a agonizante espera pela liberação de 'As meninas' pela censura



Para João Ubaldo Ribeiro, é a grande dama da literatura brasileira. Milton Hatoum destaca a magnitude e a perenidade dos contos de Antes do Baile Verde e Seminário dos Ratos, livros publicados nos anos 1970. Já Ignácio de Loyola Brandão garante não "existir, na literatura brasileira, uma pessoa mais adorável". Próxima dos 90 anos (completa na sexta-feira, dia 19), a escritora Lygia Fagundes Telles é praticamente uma unanimidade. Autora de uma obra de estilo elegante, ecos machadianos e um permanente estado de espírito que permite manipular a escrita com firmeza e serenidade, Lygia sempre oferece ao leitor a oportunidade de pensar sobre suas existências.
Basta conferir sua obra, reeditada com esmero pela Companhia das Letras desde 2009. Muitos livros se tornaram clássicos, como o romance As Meninas, de 1973, "livro até hoje muito lido nas escolas, pois reflete o impasse de jovens que viveram numa época obscura", observa Milton Hatoum. "O destino das personagens é, de algum modo, o destino de uma geração movida por sonhos de liberdade sexual e política, ou por um desejo de ascensão social. É um romance que opera com o equilíbrio entre o psicológico, o social e o político. Sem dúvida, um dos melhores livros da autora."

De fato, a literatura sempre foi, para Lygia Fagundes Telles, um caminho para mudar o mundo. Pelas letras, ela transmite aos leitores a aventura de novos conhecimentos - seja pelos detalhes do cotidiano, pelo devaneio particular ou mesmo pela vida da imaginação. "É uma escritora que se dedica aos temas universais: a loucura, o amor, a paixão, o medo, a morte", observa o crítico José Castello, autor do posfácio da nova edição de Seminário dos Ratos.

Mesmo assim, é uma mulher ligada ao cotidiano. Em seu apartamento, em São Paulo, vive rodeada de boas lembranças: fotos dos dois maridos (Goffredo da Silva Telles e Paulo Emílio Salles Gomes), do filho querido Goffredinho, de amigos e de viagens inesquecíveis. Nos últimos meses, Lygia recebeu o Sabático para reavivar lembranças, escrevendo ou falando, como as que vêm a seguir.

Clarice Lispector

Era uma grande amiga, além de excepcional escritora. Sempre me dizia: "Liginha, não sorria nas fotos. Ninguém leva a sério mulher que aparece sorrindo na fotografia!". Também era ótima companhia em viagens. Certa vez, em Cali, na Colômbia, abandonamos os debates para ficar no bar, bebendo champanhe (ela) e vinho tinto, enquanto ríamos gostosamente e ela pedia a minha opinião sobre quem era mais indiscreto nas suas traições, o homem ou a mulher. Aliás, na viagem de ida, quando o avião balançava muito e eu estava preocupada, Clarice se voltou para mim e disse: "Não tenha medo porque o avião não vai cair. Minha cartomante disse que eu morreria deitada, portanto, fique tranquila". Esse misticismo era contagiante. Certa noite, quando eu dormia em um hotel da cidade de Marília, onde participava de um seminário, fui acordada por uma andorinha desgarrada, que entrou voando no meu quarto. Levei um susto, mas logo estranhei a forma como o animal me encarava, muito amigável. Logo, consegui que o pássaro saísse pela janela. No dia seguinte, fui informada que Clarice morrera naquela noite. Só consegui dizer, baixinho: "Eu já sabia".

Ato da escrita

Para escrever, você precisa se dedicar de corpo e alma a seu personagem, a seu enredo e à sua ideia. É preciso que seja um ato de amor, uma doação absoluta, e é impossível sair do transe enquanto não dá a história por acabada, enquanto não decifra o humano. O detalhe é que o ser humano é indefinível. Por mais que tente, você não consegue defini-lo totalmente. O ser humano é inalcançável, inacessível e incontrolável, ele está sujeito a esses três 'Is'.

Mao Tsé-tung

Era um homem atarracado, com os olhos muito puxados e uma expressão quase imutável. Em nossa visita à China (éramos vários escritores), nos presenteou com um livro de poemas, escrito por ele mesmo, em francês e chinês. Os versos até que eram bons.

Monteiro Lobato

No longo corredor que me pareceu sombrio, o carcereiro avisou que a visita teria que ser breve, mesmo porque já tinha um visitante lá dentro. Entrei na saleta fria. Uma mesa tosca, algumas cadeiras de palhinha. Em torno da mesa, Monteiro Lobato de sobretudo preto, um longo cachecol de tricô enrolado no pescoço. Sentado ao lado, o visitante de terno e gravata, calvo, os olhos azuis. Monteiro Lobato levantou-se abotoando o sobretudo e veio ao meu encontro com um largo sorriso. Era mais franzino e mais baixo do que eu imaginava. Tinha os cabelos grisalhos bem penteados e o tom da pele era de uma palidez meio esverdeada, mas os olhos brilhavam joviais sob as grossas sobrancelhas negras. Ofereceu-me a cadeira que estava entre ambos. "Este aqui é um caro editor", apresentou-o e disse o nome do editor que não guardei. Sem saber o que dizer, fui logo enumerando os seus livros que já tinha lido e que ocupavam uma prateleira da minha estante, "ah! as paixões da minha adolescência": Narizinho Arrebitado, Tia Nastácia, o Jeca Tatu, as memórias daquela boneca de pano, a Emília, o Saci-pererê...
Ele me interrompeu com um gesto afetuoso, eu sabia que era avesso às homenagens e assim entendi a razão pela qual desviou a conversa, afinal seus personagens não eram culpados pela sua prisão, mas sim as cartas que andou escrevendo, ou melhor, as denúncias que andou fazendo através dessas cartas porque livros os governantes não liam mesmo. Deviam ler, mas não liam e daí a ideia das cartas curtas e diretas. "Estou aqui no meio de bandidos, tinha que me calar ao invés de avisar que o petróleo é nosso. A mocinha já entendeu, hein? Sei que é estudante, mas o que está estudando?" Quando contei que estava na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, ele abriu os braços num gesto radiante: "Pois foi lá que eu me formei!". Só que na nossa turma não tinha meninas, só marmanjos. "Ah! Se tivesse aqui um vinho a gente poderia brindar estes doutores! Quer dizer que a mocinha vai advogar?" Comecei gaguejando, bem, era difícil explicar, eu era uma estudante pobre, queria me formar para ter um diploma e assim anunciar um bom emprego. Na realidade queria ser escritora, escrever contos, romances...

Monteiro Lobato voltou-se para o editor e tocou-lhe no ombro. "Olha aí, a mocinha é vidente! Já está sabendo que escrever neste país não dá dinheiro, escritor morre pobre e ignorado. Então ela é uma vidente!", disse e tirou do bolso do sobretudo um pequeno bloco e uma caneta. "Vamos, deixe o seu nome e endereço, o meu amigo aqui vai lhe enviar algumas reedições dos meus livros, vamos, diga logo antes que o carcereiro apareça."

Faculdade de Direito

Decidi ser advogada por causa do meu pai, Durval, que também se formou na São Francisco. Era um homem lindo, adorável, mas que tinha um grande pecado: era um jogador contumaz. Adorava roleta. Ele me levava a um cassino em Santos e, enquanto eu, pequena, tomava uma enorme taça de sorvete, meu pai jogava as fichas e as perdia, uma a uma. Quando íamos embora, derrotados, ele sempre dizia: "Hoje perdemos, mas amanhã a gente ganha". Eu o admirava muito. Mas não foi fácil estudar na São Francisco. Na minha turma, éramos apenas seis mulheres entre mais de cem homens. Todas virgens! Certa vez, um dos meus colegas me perguntou: 'O que vocês, mulheres, querem aqui na faculdade? Casar?' Respondi, de bate-pronto: 'Também!' Mal sabia ele que me casaria com um dos professores (Goffredo da Silva Telles).

Hilda Hilst

Verão de 1952. Eu já estava casada com Goffredo quando a Hilda foi nos visitar no Rio. Ficou hospedada no Hotel Olinda, em Copacabana. Ela usava um maiô claro de tecido acetinado, inteiriço, na moda, os discretos maiôs inteiriços. Lembro que tinha no pescoço um longo colar de conchinhas. Falou-me dos novos planos, tantos. Estava amando e escrevendo muito, quando ela se apaixonava a gente já sabia que logo viria um novo livro celebrando o amor. Nesse sábado, tínhamos marcado no nosso apartamento um encontro com alguns amigos, Carlos Drummond de Andrade, Cyro dos Anjos, Breno Accioly, José Condé... Hilda Hilst chegou toda de preto, os cabelos dourados soltos até os ombros. Falou em Santa Teresa d'Ávila, a do "amor duro e inflexível como o inferno". Pedi-lhe que dissesse o seu poema mais recente. Então, eu me lembro, Cyro dos Anjos cumprimentou-a com entusiasmo e começou a examinar a pequena palma da mão que ela lhe estendeu, ele sabia ler o destino nas linhas da mão.

Livraria Jaraguá

Segunda Guerra Mundial, ano de 1944. Eu era uma mocinha de boina, morava com a minha mãe num apartamento na Rua Sete de Abril e duas vezes por dia passava pela Rua Marconi, quando ia para as aulas na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. E quando retornava no final da tarde, emendava a manhã com o meu expediente de trabalho na Secretaria da Agricultura, onde colava retratos, era uma estudante pobre.
Nessa Rua Marconi ficava a bela Livraria Jaraguá, de Alfredo Mesquita, e onde se reuniam as mais importantes personalidades da tranquila cidade de São Paulo, comoção da minha vida! - no desabafo ardente de Mário de Andrade. Esse mesmo Mário de Andrade que foi um dos primeiros frequentadores da livraria nos encontros no fim da tarde, ele o Oswald de Andrade. A esses intelectuais mais velhos (Sérgio Milliet, Lívio Xavier, Sérgio Buarque de Hollanda) foi se juntando um grupo de jovens, os fundadores com Alfredo Mesquita da revista Clima: Antonio Candido, Lourival Gomes Machado, Paulo Emilio Salles Gomes, Décio de Almeida Prado e Ruy Coelho, ah, tanta gente e tantos projetos. Tantos planos. Era a elite intelectual da Faculdade de Filosofia, os jovens herdeiros da Semana de 22 e aos quais Oswald de Andrade apelidou de chato-boys: "Com oito anos eles começaram a ler Marcel Proust e com dez já discutiam Spengler, ai! não aguento tamanha precocidade!", disparava Oswald de Andrade e Alfredo Mesquita dava aquela risadinha cascateante.

Paulo Emílio Salles Gomes

Meu segundo marido era um homem encantador, inteligente, vibrante, irônico. Ele me apelidou de Cuco, brincadeira com o relógio de uma velha tia cujo cuco sempre cantava as horas com atraso - eu sempre me atrasava para nossos compromissos. Também apelidou meu filho Goffredinho de Cré, pois, nas aulas de francês, quando o garoto errava feio, Paulo disparava: 'Crétain!" (cretino). Paulo sempre foi um grande incentivador da minha obra, especialmente nos momentos mais difíceis. Como em 1973, quando publiquei As Meninas. Era época pesada da ditadura militar e eu me inspirei, entre outras coisas, num panfleto que detalhava a violência física sofrida por um preso político. Coloquei isso no meio da trama e fiquei apreensiva quando o livro foi enviado para a censura. Enquanto aguardava, nervosa, o veredicto, fui surpreendida pela chegada, alegre, de Paulo, em nosso apartamento. Ele trazia uma garrafa de vinho e estava muito disposto a comemorar. Logo explicou: aborrecido com uma história em que não acontecia nada, o censor só lera algumas páginas, não chegara àquele ponto da tortura e liberava a obra.

Dom Casmurro

Eu estava na Faculdade de Direito quando li pela primeira vez Dom Casmurro, uma edição que comprei em um sebo. Achei, então, que Capitu era uma santa, uma pobrezinha; e ele, Bentinho, um neurótico, um doido varrido, histérico. Conversei com as minhas colegas, éramos seis mulheres, sobre a leitura, e eu dizia: "Não pode isso, esse homem é um louco, neurastênico, desesperado, casado com uma santa em que via a traição." Enfim, não li mais o livro. A segunda leitura foi na maturidade. Estava casada com o Paulo Emílio e preparávamos Capitu (roteiro filmado por Paulo César Saraceni e lançado pela Cosac Naify). Reli o livro e disse ao Paulo: "Mudei completamente de ideia, a mulher traiu ele, sim, o filho não era dele". E ele me perguntou: "Você tem certeza? Cuco, você não pode ser juiz, temos que suspender o juízo, como o próprio Machado queria." E eu: "Mas eu não posso suspender, esse homem é um doido, coitada dessa mulher". "Cuco, não vista a toga de juiz. Vamos apresentar o roteiro como está no livro. Você está ficando com a cara do Bentinho!" "E você então está me traindo!" Capitu traiu Bentinho? Eu já não sei mais. Minha última versão é essa, não sei. Acho que, enfim, suspendi o juízo. No começo, ela era uma santa; na segunda, um monstro. Agora, na velhice, eu não sei. 




sexta-feira, 12 de abril de 2013

Incólume

Esqueço-me. Como se quisesse reinventar meus detalhes. Como se palavras definissem lembranças, ou deixassem esconder marcas inquietas por baixo da alma cansada das desilusões. Me procuro em silêncios, e não estou lá. Talvez na mesa de um bar, num telefone que toca em vão. Talvez eu esteja lá, no tempo desperdiçado em conversa fiada, num tempo que já não é mais nosso, ou em alguma letra de uma música lenta que já não toca mais nas rádios.
Só não sou feito de mentiras.
E no meio de todas essas confusões, as pessoas não entendem quem eu sou. E a essas pessoas, não tenho respostas. Porque enquanto houver ela aqui dentro, eu nunca vou saber quem eu sou de verdade. Apenas uma sombra na noite que não consegue dormir. Apenas uma lembrança que não muda, que não vai embora e nem permanece onde devia. Mas são essas as idas e vindas de histórias inacabadas. E a mim, só cabe o silêncio e as palavras ao mesmo tempo.
O silêncio para acalmar a alma.
E as palavras para tentar me encontrar.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Vivendo de novo


















Eu estive cego por um longo, longo tempo
Até ver de perto tudo ser levado pelo vento
Como castelos de cartas caindo num vendaval
E a vida desmoronando em um dia tão igual

Eu vi as desconstruções das muralhas da alma
Vi o céu ruir em azul toda sua força calma
Vi senhores que dominavam a multidão
Levantarem vôos  e sumirem na imensidão

E então eu acordei da minha vida tão silenciosa
E vi o céu sorrindo para mim em tons vermelhos e rosa
E nada mais era tão importante quanto seguir em frente
Deixar ficar todo o vazio, e levar no coração tudo que se sente

E lá fora, dentro dessa vida nova, alguém cantava aquela canção
Deixando na boca o gosto de despertar de corpo alma e coração
Para uma vida sem os cegos castelos de areia à beira-mar.
Dali para frente, eu sabia que se pudesse sorrir, também podia amar.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Invólucro Pensamento


















Penso.
Não descrevo realismo
Mas comodismo
Muito me incomoda.
Sem reticências
A semântica das palavras,
Fluir em antítese
No paradoxo do pensar
Amar, não só por amar
Semanal
             mente
O que se sente
Ao avesso
Do avesso das palavras
Do abraço às mãos dadas
Semeando
         ando
         ando amando
Ando acordado.
Porque se penso
Logo incomodo
Os sonhos

domingo, 31 de março de 2013

Relutância

















Mantenha a cidade limpa dizia o cartaz
Políticas públicas,  ou sujas tanto faz
Governo indecente  quem mente ao povo
Descrente de quem já ouviu tudo isso antes
Sem esperanças, agora sofre de novo
Cidade limpa, de negros, homossexuais
Mas e o livre arbítrio e o tal direitos iguais?
E o cidadão que já não aguenta mais?
Como faz?
Como fez o prefeito, deputado ou senador
Que joga no lixo o valor de todo respeito e amor?
Cidade indigesta, país indigente
E a gente
Ficando sem fala
Ou falando às paredes sobre corruptos
Homens públicos, também chamados de putos
Acorda país, seus direitos estão ali na esquina
Sendo levados pelas enchentes
E vendidos pelos traficantes de cocaína
Suas lutas, incubadas pelos seus temores
Transformando Brasília num circo de horrores
Num triste pesadelo, querendo acordar
-Acorda poeta, o dia nasceu, é hora de trabalhar.


domingo, 24 de março de 2013

Ana e o Mar - O Teatro Mágico




Veio de manhã molhar os pés na primeira onda
Abriu os braços devagar e se entregou ao vento
O sol veio avisar que de noite ele seria a lua,
Pra poder iluminar Ana, o céu e o mar

Sol e vento, dia de casamento
Vento e sol, luz apagada no farol
Sol e chuva, casamento de viúva
Chuva e sol, casamento de espanhol

Ana aproveitava os carinhos do mundo
Os quatro elementos de tudo
Deitada diante do mar
Que apaixonado entregava as conchas mais belas
Tesouros de barcos e velas
Que o tempo não deixou voltar

Onde já se viu o mar apaixonado por uma menina?
Quem já conseguiu dominar o amor?
Por que é que o mar não se apaixona por uma lagoa?
Porque a gente nunca sabe de quem vai gostar

Ana e o mar... mar e Ana
Histórias que nos contam na cama
Antes da gente dormir

Ana e o mar... mar e Ana
Todo sopro que apaga uma chama
Reacende o que for pra ficar

Quando Ana entra n'água
O sorriso do mar drugada se estende pro resto do mundo
Abençoando ondas cada vez mais altas
Barcos com suas rotas e as conchas que vem avisar
Desse novo amor... Ana e o mar

segunda-feira, 18 de março de 2013

18 de Março


















Céu escuro, cor das cinzas do cigarro sobre a mesa
E a lembrança presa nos últimos fragmentos
De um amor perdido entre palavras 
E versos de poemas jogados aos ventos

Hoje sempre será um dia daqueles que tento esquecer
Para me perdoar pelas coisas que eu nunca tentei
E talvez chorar as últimas lágrimas sensatas
Daquele primeiro amor pelo qual nunca amei.

Uma data, como tantas outras no antigo calendário
Sobre a mesa do quarto, ainda rabiscado pelo teu aniversário
Como se a partida, fosse o ponto de encontro
Do meu próprio e sincero  desencontro

Sentimentos não morrem da noite pro dia
Mas volta e meia, voltam a virar nova poesia
Para contar sobre dias que tirei do calendário
Fazendo das palavras, o sentimento necessário

Adicionando sombra nas lembranças
Mudando o tom da voz do esquecimento
Fugindo de detalhes presos à memória
Pra te tirar de vez  do pensamento


Hoje, é uma data como todas as outras...
E o resto é nada mais







segunda-feira, 11 de março de 2013

Passageiro


















Passageiro de frestas e arestas mal abertas
Nessa e em outras vidas atrevidas ao descaso
Vidas de passeio, sujeito raro que mal sabe onde ir
Mas chega onde quer  sem contar com o acaso

Passageiro de outras histórias, contadas às pressas
Por gente que trabalha  a malha das noites mal dormidas
Alheio aos pensamentos de quem pensa demais
Todo poeta passeia por histórias de outras vidas

Viagens entre devaneios, choros e tristeza
Embriagados por felicidades quase desconcertantes
Trazendo letras nas bagagens  por todos os rumos
E poesias que cantam suas melodias berrantes

Poesias que rodam a dança dos ventos
Que tiram as palavras pra dançar no terminal
E pegam um voo pro sul, tão longe de nós
Onde as histórias já não terminam com um ponto final...

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Menina Morena






















Esconde teu rosto moreno, teu jeito sereno de não se deixar amar
Pressente teu coração batendo, teu peito tremendo querendo se libertar
E de passos em passos, é teu caminho sem traço, nem marca firme de batom
Morena que sonha acordada, é princesa encantada nas estórias de baixo tom.

Cabelos sobre o vento, histórias de contratempo sem limite nem razão
Vida que corre ás pressas deixando as travessas mal atravessadas entre o coração
Chuva que borra a maquiagem, traz no peito a coragem de nunca desistir
Menina que chora aos prantos, também sorri com os encantos de quem não sabe mentir

Menina, por vezes má,
Mulher que só quer amar
Sem sofrer as desavenças da paixão

Liberta tua alma, que não ama por medo
Mostre ao mundo o teu segredo
Se entregue nessa dança de corpo, alma e coração...

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Soneto a Bailarina e suas Angústias






















Bailarina, que dançava nos palcos de minha antiga vida
Que sobrevivia de sonhos e inquietudes desconcertantes
Dançando agora em palcos alheios, além de meus olhares
Flutuando entre inverdades e nobres valsas dançantes

Pensava eu, que seria apenas meu, todo amor que nunca foi
E era tão certo ao dizer que tinha por completo as palavras ditas
E apenas certo foi o dia em que o trem cortou os trilhos da partida
Levando embora sorrisos  e desesperos de outras vidas mal vividas

Bailarina, de dança triste, incólume com os sentimentos
Afagando no peito calado a partida vazia ao descaso
Entre os avessos da alma, via-se a si mesma nos palcos, esquecida.

Dançando sobre os escombros dos velhos pensamentos
Sorria ao dançar com o choro engolido entre a alma e os passos
Fingindo novamente ter seguido em frente na grande dança que é a vida