domingo, 25 de setembro de 2011

Fantasmas


















-Entre. - Disse o doutor.
Foi a deixa que eu esperava para entrar no desabafo do pior pesadelo de minha vida.
Meu psicólogo era um homem alto, magro e de poucas palavras. Geralmente só me ouvia desabafar, e no final concluía com um “Conte-me mais sobre isso” que muito me irritava.
Mais aquela sessão era especial. Eu estava o usando para exorcizar meus fantasmas.  E sentia uma enorme satisfação por tornar útil um psicólogo. Porque pelo menos os que já passaram por minha vida antes, nunca tiveram uma real serventia.
Seguimos o mesmo processo de rotina,  sentar-me na cadeira esquisita, começar a contar os fatos de minha vida, e o ouvir resmungando atrás de mim.
-Doutor, desta vez o problema são estes fantasmas. – Eu disse.
-Fale-me mais sobre isso. – Ele me disse. Como sempre.
-Claro doutor. Com prazer. – Eu disse, limpando o pigarro da garganta e começando meu diálogo.

“Meu pequeno problema é que há estes pequenos, porém perturbadores  fantasmas em minha lacuna pessoal.  Estes  pequenos pedaços da minha própria história, que me fazem perder a noção dos sentimentos em questão.  E não há, em meu querer, uma vontade própria de expulsá-los.  E falar sobre o problema, é uma barreira tão longa, que não existe a menor possibilidade de ser feita sem o auxílio.”

Eu então fiz uma pausa, porém, não ouvi os resmungos habituais vindos atrás de mim. Então, virei-me lentamente, observando todo o consultório com ávida predestinação. E não havia nele nenhum sinal do meu psicólogo.
Das duas, uma. Ou ele era apenas mais um dos fantasmas da minha existência.  Ou meus problemas pessoais eram tão chatos que ele se levantou e foi embora.

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