segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Minha primeira namorada maluquinha







Ela estava lá, cantando no palco, aquela velha canção que meus ouvidos já conheciam daqueles fins de noite em meu quarto, quando a luz apagada era a única sombra de escuridão em nossa história. Vê-la ali, ainda que apenas por aqueles pequenos momentos antes do fechar das cortinas já me eram de grande valor.
Como já era de costume, eu ficava ali, no fundo do salão oval do teatro Vitória. Chegava sempre alguns minutos depois do espetáculo ter começado, e saía um pouco antes dele acabar. Apenas para que minha presença não fosse notada.  Eu já era sentido na voz suave dela enquanto cantava para o público. E isso me bastava.
Nossa pequena história contada e reinventada pelo tempo, era algo que ia além das pequenas limitações do sentir humano. Éramos arte. Éramos apenas aquilo que tínhamos que ser. Mas que como tudo aquilo que se existe, um dia termina.
Me lembro como se fosse hoje, de quando a conheci. Eu estava perdido na biblioteca municipal, procurando por um livro de Ágatha Chistie, quando ela de repente apareceu do nada, com um livro na mão, e apesar de não nos conhecermos, disse como se já fossemos velhos amigos:
-Toma aqui, leia este livro. É melhor que romances policiais, e tenho certeza que você vai adorar a história.
O livro em questão, era uma versão infanto-juvenil de “Os Miseráveis”. De fato, adorei o livro. Mas lá pelas tantas páginas, encontrei no meio dele um pedaço de papel, com o nome daquela garota maluca e seu número de telefone.
Ela não foi apenas meu primeiro amor. Foi também, um dos mais importantes da minha vida. Foi um namoro rápido. Nos conhecemos, namoramos, e em determinado momento decidimos que era melhor cada um seguir seu rumo. Ela dizia que eu roncava. E eu sempre achei que ela era meio maluca.
Depois ela se mudou para outra cidade, e continuou sua carreira de atriz de uma cia. de teatro que não tinha muito futuro.
Aí, você caro leitor, deve ser perguntar, e o que esse texto tem a ver com este blog? Calma, eu já estou quase chegando na parte das explicações.
Hoje pela manhã, li a nota do casamento dessa maluca na coluna social. O casamento foi realizado no último final de semana. Uma festa maravilhosa, e ela estava linda. Apesar de eu ainda achar que noivas devam se casar de vestido branco, e não aquele vestido roxo que ela estava usando. O fato é que isso me encheu de uma estranha felicidade.
Minha primeira namorada maluquinha estava agora casada. Isso me fez pensar que na vida, todos os pequenos momentos, não são apenas lembranças que passam. Elas ficam. E volta e meia, se fazem presentes em nosso caminho. Para nos lembrar que sempre tivemos motivos para sorrir, e que sempre haverão coisas boas a serem vividas.
Este texto, é em homenagem àquela maluca, que chegou do nada, ficou pouco tempo, mas sempre será lembrada com carinho, como a minha primeira namorada maluquinha.

7 comentários:

  1. Canata, seu conto está muito bem escrito.
    Sua linguagem e narrativa nos remetem à técnica poética. Deveria escrever mais prosa.
    O primeiro amor é como um furacão: passa rápido, mas nos deixa marcas indeléveis.

    Ah, o vídeo também é muito pertinente!

    Parabéns pela versatilidade!

    Abraços!

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  2. Ai que legal Canata!
    Muito legal essa história de amor,rsrsrs...
    Adorei!
    Pois é verdade...as coisas vem e vão,mas elas sempre voltam,neah?!
    É bom saber de pessoas que nos marcaram,e melhor ainda saber que elas estão bem e felizes.
    Felicidades a esta sua primeira namorada maluquinha,rsrs...Beijos e boa semana!

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  3. Oi F. Gostei muito dessa sua inserção no mundo dos contos. Acho até que vc pode fazer isso mais vezes, e colocar o vídeo com música fez o conto ganhar vida. Bem legal! Diversificar as vezes, vale a pena. Um bj carinhoso.

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  4. Boa noite Canata,

    A sua história está de gritos!
    A maneira como diz "maluquinha" é tão terna!
    Que bom, que ficaram recordações.
    Afinal, recordar é viver.
    Imagine se fosse você o noivo, agora. Tinha direito a coluna social.
    Bom feriado!

    Beijo de luz.

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